quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O homem atrás da pilastra


Enquanto passavam pessoas, alegres e joviais, pelas ruas iluminadas, ele refugiou-se do mundo ocultando-se num beco escuro qualquer. Ali, onde a luz solar e os olhares curiosos não alcançavam sua face, ele pôde recolher-se em sua solidão, talvez seu único e inexorável amor, e pensar no quão deprimente havia sido sua existência até agora: tentativas fracassadas, esperanças destroçadas, sonhos incinerados e um coração prestes a partir seus últimos pedaços. Levou uma das mãos aos olhos e tapou-os, relembrando cada momento em vão; até a mais célere lembrança lhe parecia fúnebre e distante agora. Sentiu-se velho enfermo, um feixe de sua essência esvaindo a cada dia. A primeira gota de chuva despencou do céu e logo vieram milhares delas, o céu cobriu-se de um cinza pálido, tristonho, e as ruas esvaziavam-se apressadamente. Sentou-se no chão como um mendigo e pôs-se a chorar ruidosamente, a forte chuva abafava sua melancolia. Ali permaneceu por horas até um som inalcansável para ele: risadas calorosas e sinceras. Esgueirou-se com cuidado para trás de uma pilastra de ferro, os olhos ainda úmidos, e observou sem palavras toda a sorte de outrém que ele jamais teria para si: um casal, apaixonado, sorrindo.

4 comentários:

  1. Eu realmente me senti muito mal escrevendo esse texto, muito mal mesmo.

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  2. como você gosta de comparações com mendigos...
    como você gosta de se retratar por um gênero masculino...
    aah você..

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    1. Mendigos são o cúmulo do 'desalento', rs E eu não me retratei, apenas escrevi um texto. Mas sim, eu gosto de escrever todos os meus textos no masculino, até escrever 'poeta' ao invés de poetisa.. Afinal, acho que os poetas nao têm sexo, nem idade, nem época definida rs Voce é o mesmo anonimo q comenta nos outros posts?

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  3. Na verdade em ver as pessoas felizes.. é se retratar. Porque no fundo de cada palavra que possa ser escrito por alguém, tem em alguma parte um sentimento, que se auto-retrata. Mesmo que nunca passamos por alguma situação, ela é nossa, nós "vivemos" ela, nós sentimos ela. É o que eu acho, pelo menos. E sim, sou eu :)

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