sábado, 25 de fevereiro de 2012

Hijo de La Luna


Conta uma antiga lenda que certa madrugada escura uma cigana de pele queimada e semblante lívido ingressou na floresta sombria sem preocupar-se com os perigos da noite e, às margens do córrego, anjoelhou-se e fechou as mãos como em reza. A lua era plena e brilhante como um cristal, e à ela a cigana implorou seu único desejo. Suplicou tão sincera e desesperadamente que aos olhos da lua suas palavras foram transparentes, tão dignas de serem atendidas. A cigana apenas almejava por alguém que a amasse, pela falta do qual sentia-se definhar em amarga solidão. E a lua revelou atender o seu desejo na manhã seguinte, caso a cigana aceitasse seu acordo. "O primeiro filho que tiverdes com este homem, trarás aqui e afogarás neste riacho, para que sua alma seja minha. O filho da lua." Cega de tristeza, a cigana concordou sem nem importar-se. Teria o seu amor.
Na manhã seguinte eis que surgiu um belo cigano, forte e honrado, para pedir-lhe a mão. Duas semanas depois houve uma bela cerimônia muito vívida e alegre e todo o vilarejo festejou por dias a fio. A cigana de pele queimada enfim encontrara seu amor. Lá de cima a lua ainda a observava taciturna.
Foi durante uma noite de inverno fria e nebulosa que deu-se o parto do bebê albino; olhos prateados e pele pálida como a face da lua. Ao ver-se segurando uma criança branca nas mãos, o pai cigano sentiu-se traído e pôs-se a perguntar a esposa quem fora o homem que a tocara, ele o mataria com as próprias mãos. Sem saber como explicar, a cigana acabou por ser morta pela indomável fúria do marido, o sangue escorrendo de sua pele queimada, o eco dos gritos no quarto. Então o homem segurou o bebê albino nos braços nus e correu para a floresta sinuosa. Lá de cima a lua ainda o observava. Tomado por desonra e traição, atirou o inocente nas águas gélidas do riacho e assistiu seu pequeno corpo submergir na escuridão. Voltou para casa.
Lá de cima uma lua cheia divertia seu novo bebê com um mar de brilhantes estrelas e, caso ele chorasse, faria-se minguante para acalentar-lhe com um lindo berço de prata. O acordo fora cumprido.
[Baseado na canção Hijo de La Luna, que jamais teve uma versão em texto corrido.]

2 comentários:

  1. Em relação as músicas que te alegram, não adianta muito, ou você acha que adianta? Ter momentos incrivelmente mutáveis de alegria sendo que o final irá ser o mesmo? A mesma dor? Os mesmos pensamentos? O que seria interessante também colocar na sua lista, seria as músicas que você ouve em seu estado normal de tristeza. Caso você poste, obrigada :)

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  2. Um boa idéia, acrescentarei na página 'listas' =)

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