Muitas pessoas caminham por invernos rigorosos há anos, em uma marcha infindável, almejando encontrar a primavera. Acreditam que a estação das glórias e flores estará lá, algum dia, atrás de alguma montanha de gelo, algum rio congelado. Eles realmente depositam toda sua fé nessa caminhada tortuosa com a esperança de ver as cerejeiras em flor, o sol os aquecer a pele. Então eles se martirizam pelos invernos da alma. Sempre em frente em uma estrada sem fim, na companhia do vento incessante. Uma estrada de gelo que feri os pés, uma ventania que lhes arranca do corpo as energias como um sopro de morte. Você poderá reconhecê-los facilmente se os ver por aí.. geralmente vagam solitários e em farrapos, em lágrimas e delirando, muito devagar, pois a caminhada lhes extingue as forças. E deliram sobre cores e flores.
Os caminhadores do inverno nada mais são do que qualquer pessoa que esteja vivendo em tragédias e ruínas há tempos, sofrendo de uma dor interminável e seguindo a vida a passos vagarosos sempre acreditando que um dia tudo vai melhorar. Essa pessoa permanece imersa em tristeza e situações que lhe fazem mal, mas nada faz a respeito disso, apenas acredita que um dia, do nada, tudo vai dar certo no final. Mas essa pessoa se esquece - ou, talvez, jamais tenha aprendido - que o inverno não é um lugar e a primavera outro; os dois são a mesma paisagem. As mesmas flores primaveris são as que se congelam no inverno, se você derreter o gelo, encontrará essas flores.