" Observou a paisagem ao redor: nada mudara; Era álvida e serena, com a neve eternamente sendo despejada dos céus. Muita neve, muito branco, e nada que quebrasse o perfeito intocável do horizonte inabitado. Era completamente planície e colinas, sem árvores, sem riachos ou qualquer outro impecílio estético que pudesse ameaçar a sensação horrenda de desolação e agonia que aquele lugar causava. Sim, aquela era a Terra do Vazio, a forma mais real e concreta para descrever tal sentimento. E a Tristeza estava lá, tremendo de frio e agonizante. A Tristeza era uma jovem nua e anoréxica de aspecto defunto e deplorável. A pele possuía uma nuance azulada proveniente de séculos à mercer do gelo, o cabelo era fino e grande, preto, escorrido pela cintura. Todo o corpo contorcia-se suavemente, os braços - frágeis como ossos- abraçavam as pernas em posição fecal. Era tamanha a sua dor que mal conseguia tremer, talvez seu único movimento fosse o mover das pupilas da direita para a esquerda, freneticamente. A Tristeza tinha belos olhos azuis claríssimos, cílios congelados e lábios ressecados e pálidos, sempre entreabertos. Talvez soassem deles orações silenciosas, talvez gemidos de dor ou mil palavras indecifráveis que fossem. Ela observava a paisagem de modo desinteressado e desesperado, não havia nada que a consolasse; sentia nas costas o peso do mundo: as milhares de milhões de angústias, desamores e lamúrias dos seres humanos. Afinal, ela era a personificação de toda a tristeza terrestre. Sentia frio, muito frio. Não só o enregelar físico causado pela proximação direta com a neve e o gelo, porém o interno; suas veias, órgãos e neurônios estavam congelados, ao mesmo que inundados de pesares e depressões, exceto o coração. Este estava intacto, o que era o pior dos castigos, pois assim para sempre permaneceria em amor, e sofrendo. Sofrimento, ela simplesmente sofria. Para sempre. Em suas costas, toda a tristeza do mundo. "
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Expresse-se.