"No que eu me tornei, meu caro amigo?"
"Uma segunda personalidade minuciosamente treinada para fins obscuros"; este têm sido o meu reflexo no espelho por pares de anos. E acreditei tão fielmente que esta seria a única e derradeira maneira de alcançar meus almejares... Vesti uma máscara de porcelana, suntuosa e imunda, fétida de todos os podres mundanos, e a beleza cínica de uma gota de rubro veneno. Fui fiel e dedicada à interpretação perfeita de um personagem que, aos poucos, deliberadamente consumiu-me o espírito. E todo este tempo em que encenei a realidade é que nada obti além de tristeza, vazio e dor. E certo dia peguei-me tão atada às mentiras que eu própria dissimulei em meu teatro macabro, que pûs-me a prantear por uma solidão devastadora. Solidão é tudo que se consegue quando nos apresentamos mascarados. Pois outros, mesmo que se encantem 'conosco', não é por nós.
Então no que eu me tornei? Eu não sei mais que face possuo por trás dessa máscara, eu não sei mais quem eu sou. Estou confusa e atordoada num mundo de promessas, ilusões, dramas e atuações perfeitas. Sinto-me desoladamente cansada de mim mesma e da esfera de problemas que criei ao meu redor. Se restar-me tempo, tudo o que quero agora é quebrar essa máscara - já costurada ao meu rosto - e, algum dia, pela primeira vez após tanto tempo, ver meu semblante sincero e cristalino. Eu quero deixar essa lama de aflição e mentira e escrever a primeira linha de uma nova história; uma história de verdade. E quero conhecer novas pessoas, situações e que estes se encantem - ou não - por mim mesma dessa vez. Este seria o primeiro degrau da longa escada para fora da solidão..
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